segunda-feira, 18 de abril de 2011

A MULTA



Tiago olhou bem para o velocímetro antes de tirar o pé do pedal: 65
numa zona de 40. A quarta vez este ano. Como é que uma pessoa podia
ser flagrada tantas vezes?

Quando chegou a quase parar, ele encostou o carro, mas deixou uma
parte em cima da pista. Deixe o guarda se preocupar com o perigo do
trânsito que passava. Talvez outro carro daria um susto nele. O
policial estava descendo do carro, caneta e bloco na mão.

Roberto? Roberto da igreja? Tiago baixou mais ainda no assento. Isso
era pior do que a multa que ele receberia. Flagrado por um irmão
policial da mesma igreja!

Descendo do seu carro, Tiago viu um homem que via todo domingo, mas,
nunca o havia visto de farda.

- “Oi, Roberto. Imagine encontrando você assim.”
- “Oi, Tiago”. Nada de sorriso.
- “Parece que você me flagrou correndo um pouqinho para casa.
Querendo ver a mulher e os filhos.”
- “Pois é.” Roberto parecia meio incerto. Isso era um bom sinal.
- “Tenho trabalhado muito ultimamente. Parece que eu falhei só esta
vez.” Tiago empurrou uma pedrinha com o sapato. “A esposa falou de um
rosbife e batatas hoje à noite. Sabe como é, né?”
- “Eu sei como é. Sei também que você tem uma reputação no nosso
distrito.” Essa não! A conversa não estava indo nada bem. Hora de
mudar de tática.
- “Quanto foi que você mediu”?
- “Setenta. Pode voltar para o carro, por favor”?
- “Pere aí, Roberto. Eu olhei assim que eu lhe vi. Eu estava mal
chegando a 65.” A mentira parecia sair com mais facilidade a cada
multa.
- “Por favor, Tiago. Volte para o carro.”

Chateado, Tiago voltou a entrar no carro, bateu a porta com força e
olhou para o painel. Ele não tinha pressa nenhuma em baixar o vidro.
Minutos passaram. Roberto estava escrevendo.

Por que ele não pediu a carteira de motorista? Seja qual for a razão,
nem tão cedo Tiago sentaria perto desse policial na igreja.

Um toque no vidro e ele virou a cabeça. Lá estava Roberto, um papel
dobrado na mão. Tiago baixou o vidro cinco centimetros. Só o
suficiente para puxar o papel.

- “’Brigado”. Tiago não consegiu esconder a ironia na voz.

Roberto voltou à viatura sem dizer uma palavra. Tiago olhou para ele
no retrovisor. Ele abriu a folha de papel. Quanto será que isso ia
custar? Mas, o que era isso? Alguma piada? Não era uma multa. Apenas
algumas palavras escritas à mão. Tiago começou a ler.

Prezado Tiago, Era uma vez, eu tinha uma filha. Ela tinha seis anos
quando foi atropelada por um carro. Você adivinhou - um cara correndo
em alta velocidade. Uma multa e três meses na cadeia, e ele estava
livre. Livre para abraçar suas filhas, todas as três. Eu só tinha
uma, e vou ter que esperar até os céus para abraçá-la outra vez. Já
tentei perdoá-lo milhares de vezes. Milhares de vezes pensei que
havia conseguido. Talvez consegui. Mas, preciso fazer de novo. Até
mesmo agora. Ore por mim. E tenha cuidado Tiago. Só tenho agora meu
filho. Roberto.

Tiago virou em tempo para ver a viatura voltar à pista e seguir
adiante. Tiago ficou olhando até que saiu de vista. Ele só voltou à
pista mais de quinze minutos depois e seguiu para casa, bem devagar,
orando por perdão o caminho todo. E quando chegou, deu um abraço que
surprendeu a esposa e os filhos.

A vida é preciosa. Trate-a com cuidado. Se você dirigir, dirija com
cuidado. E lembre-se que os carros não são a única coisa que são
chamadas de volta pelo fabricante.


de Autor Desconhecido

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